número treze, ano nove

laryssa andrade
2 min readAug 15, 2022

evito visitar os teus retratos antigos para não me perder em infinitos distantes que me farão não saber o caminho da volta. caminhos longos, tipo as estradas do sertão. longos, como o comprido do castanho dos teus olhos. tão fundos quanto o fim do mar que busco e não alcanço. (como posso

ver o que não

alcanço?)

quero virar a esquina e dizer que sinto muito pelo tempo. e quando você virar junto, quero pegar no seu rosto com as duas mãos e contar os sinais com os dedos. quero que o líquido que escorre dos meus olhos gritem que o relógio foi inútil e você me responda de volta que está tudo bem, igual como no sonho da semana passada. tenho aprendido sobre a brevidade das coisas e que o adeus se camufla nas flores que você gostava, no vidro do perfume que ainda guardo e na canção que me faz tapar os ouvidos, antes que eu enlouqueça por pensar no tic tac das coisas. aprendo que

tudo é ciclo e tudo se transforma e que

eu (também) vou com o tempo, dedo mindinho com dedo mindinho,

esperando que ao virar a esquina você esteja como nas tardes de 99. de vestido florido,

e eu com a calça vermelha e aquele tênis branco. cabelos soltos.

pra sempre.

comigo.

imagem autoral das colagens analógicas que nascem por aqui. a do lado esquerdo se chama “identidade”, a do direito, “as janelas da memória”. ambas, de 2022. nesse caderno, a maioria delas retratam memórias e outras poesias trazidas pelo cotidiano.

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laryssa andrade

fotógrafa que escreve cotidianos e outras memórias.