Eu não queria você aqui

Uma conversa sobre egoísmo e saudade

laryssa andrade
1 min readJun 13, 2021

hoje a minha avó estaria com oitenta anos. ela se despediu muito cedo — eu tinha acabado de fazer treze anos. busco lá no fundo alguma maneira de imaginá-la sem dor e completamente saudável. sei que ela estando aqui, não seria assim. não seria um conto bonito. me aproximo da fotografia como uma tentativa de cura. como se ao fazer uma foto ou criar alguma colagem sobre ela, eu eliminasse, cada vez mais, os incômodos que ela sentiu em vida. quem mais poderia me doar esse tipo de cura? somente a arte faz isso. prefiro acreditar assim.

quando choro a morte dela me apego ao que não aconteceu. mas, quando lembro de como tudo está confuso por aqui, essa ideia logo se desfaz. em um segundo a partida se torna acalento e a dor se converte ao sentimento mais leve que existe. eu só continuo não sabendo explicar a saudade. fico com a definição da canção que diz: “o meu silêncio é uma nota preta num imenso papel vazio, mas ainda é uma nota que toca, e a lágrima toca o céu”. continuo enviando lágrimas a um céu sem saber o lugar que ele está.

ter fé é imaginar.

eu estaria mentindo se falasse para a minha avó: “eu queria que você estivesse aqui”. eu queria que ela estivesse do meu jeito (e o mundo não está do meu jeito).

ter fé é imaginar.

que não me falte imaginação.

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laryssa andrade

fotógrafa que escreve cotidianos e outras memórias.