Difícil seria sair ilesa

O dia virou noite. Chove.

sinto, inevitavelmente, há quatro semanas, que seria impossível sair ilesa disso tudo. junto os cacos e aceito. o mundo parou. não sei como, finalmente, cheguei a essa conclusão, mas após alguns choros e tempestades internas é natural que algumas coisas voltem ao lugar. um diferente lugar. um caos, mas um caos calmo, igual o título daquele livro que está na estante (e que nunca li).

mas, diferente do não lido, concluí esses dias a leitura de um outro escrito por Shonda Rhimes*. inclusive, fiz mais marcações nele do que previ. foram gatilhos bons, coisas como essas que sinto agora, mesmo na dor.

“aceno a bandeira branca. há vitória em se render”.

me rendi, Shonda. me rendo.

olho pela janela, ainda chove. daqui a pouco preciso sair sem a minha vontade, mas respiro. ainda consigo respirar. vou separar a máscara amarela que comprei de uma senhora no estacionamento do mercado, o álcool líquido e algum casaco para os vinte e poucos graus doados pelo tempo. acho que o meu all star preto, já cinza pelos anos, contrasta com o céu de hoje. vou usá-lo também. parece uma boa maneira de se render.

*“O ano em que disse sim” foi escrito em 2015 por Shonda Rhimes, roteirista, cineasta e produtora de televisão norte-americana. Rhimes escreveu o roteiro de diversos filmes, entre eles Introducing Dorothy Dandridge, Crossroads e The Princess Diaries 2: Royal Engagement. a sua primeira produção para a TV foi Grey’s Anatomy (2005-presente).